Título original: “Network”. Ano: 1976. Direção: Sidney Lumet. Roteiro: Paddy Chayefsky. Elenco: Faye Dunaway, William Holden, Peter Finch, Robert Duvall, Wesley Addy, Ned Beatty, Beatrice Straight, Marlene Warfield, Arthur Burghardt. País: EUA. Produção: Metro-Goldwyn-Mayer (MGM), Howard Gottfried. Fotografia: Owen Roizman. Música: Elliot Lawrence.
Sinopse: Harold Beale (Finch), veterano âncora de telejornal, acaba de ser comunicado de sua iminente demissão. Para surpresa de todos, ele anuncia o ocorrido no próprio noticiário, prometendo se matar na frente das câmeras na noite seguinte. Ao constatarem que o comportamento errático do apresentador se tornara assunto nacional, os diretores do canal percebem ter nas mãos, mais que um louco, uma inesperada arma na luta pela audiência. Enquanto isso, o chefe de jornalismo da emissora (Holden) tenta solitariamente resistir à insanidade.
William Holden, não por acaso, um astro da velha Hollywood, é aqui monumento de sobriedade e anacronismo em meio a seus pares da nova geração televisiva. Estes, por sua vez, são representados por uma galeria de loucos, vivida por elenco tão afiado que seria impossível apontar um único destaque. Faye Dunaway é a chefe de programação, obcecada por audiência e insensível à ética. Se Dunaway está perfeita, não menos virtuoso é Robert Duvall, como o executivo que representa a transformação da comunicação em negócio, e nada mais que negócio. Acima deste, na hierarquia corporativa, está Ned Beatty, cuja única aparição, tão breve quanto poderosa é o ápice da fita. Como uma força da natureza, Beatty encarna o “deus mercado”, explanando furiosamente sua ideologia/religião e convocando Beale para ser seu profeta. Esta magnífica cena documenta um relevante momento histórico daqueles 1970: a transição do capitalismo para sua etapa predominantemente financeira (em que “pessoas e países se tornam obsoletos”, e a própria democracia, um obstáculo). Por fim, no meio desse circo há o trágico palhaço, Harold Beale. Pelo simples fato de estar na televisão e ser visto por milhões, Beale se transforma seguidamente em depressivo, suicida, louco, profeta do povo, voz do mercado, ou o que quer que a emissora, os telespectadores, os deuses ou o lucro da companhia decidissem. A figura de Peter Finch, único ator a receber o Óscar postumamente, encarnou magistralmente todo esse processo tragicômico de desumanização. Enfim, ler “Rede de Intrigas” apenas como uma crítica à televisão é subestimar a obra. Mais do que isso, há na sátira um comentário sobre a influência da comunicação de massas na saúde mental coletiva. A televisão é, assim, apenas catalisadora de uma transformação humana muito maior, de modo que sua eventual substituição pelas redes sociais não faz “Network” envelhecer nem um pouco. Pelo contrário, 43 anos depois de sua estreia, nossos celulares seguem reproduzindo, desesperada e irracionalmente, os gritos de Harold Beale: “Eu estou indignado e não vou mais aceitar isso que está aí!!!!”
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