Título original: “Jeanne Dielman, 23 Quai du Commerce, 1080 Bruxelles”. Ano: 1975. Direção: Chantal Akerman. Roteiro: Chantal Akerman. Elenco: Delphine Seyrig, Jan Decorte, Henri Storck, Jacques Doniol-Valcroze, Yves Bical. País: Bélgica, França. Produção: Guy Cavagnac, Alain Dahan, Liliane de Kermadec, Corinne Jénart, Evelyne Paul, Paul Vecchiali. Fotografia: Babette Mangolte.
Sinopse: Viúva solitária (Seyrig) passa seus dias em uma metódica rotina, que engloba diversas e incessantes atividades domésticos, jantares semi silenciosos com o filho estudante (Decorte) e discretos programas verpetinos para complementar a renda, com clientes fixos semanais.
A diretora Chantal Akerman teceu meticulosamente esta obra-prima que, de lendária peça experimental de quase exclusivo interesse cinéfilo ou teórico, viu-se alçada abrupta e inadvertidamente ao posto de “o melhor dos filmes”, na edição de 2022 da famosa lista decenal da revista inglesa “Sight & Sound”. Que ninguém se engane, porém: as escolhas da autora para esta narrativa não são óbvias nem fáceis, tanto em 1975 quanto hoje. O tédio e a solidão de que trata são transmitidos fielmente ao espectador, de modo a inseri-lo na vida da protagonista, encarnada com sobrenatural autenticidade por Seyrig. É o movimento que mantém Jeanne viva, a ação constante, que também a distancia de si mesma, esse assustador fantasma. Conforme os poucos dias passam lentamente (3 dias incompletos em mais de 3 horas), vemos a ininterrupta rotina que a sustenta acusar sutis rachaduras, que logo levarão seu frágil edifício emocional à ruína. Experiência única em cinema, “Jeanne Dielman” não é para todos os gostos, mas foi e continuará sendo um filme a ser visto.
202 min.