Título original: “Boca de Ouro”. Ano: 1963. Direção: Nelson Pereira dos Santos. Roteiro: Nelson Pereira dos Santos, Nelson Rodrigues (peça “Boca de Ouro”). Elenco: Jece Valadão, Odete Lara, Daniel Filho, Maria Lúcia Monteiro, Ivan Cândido, Adriano Lisboa, Geórgia Quental, Wilson Grey, Maria Pompeu, Shulamith Yaari. País: Brasil. Produção: Copacabana Filmes, Fama Filmes, Imbracine, Jarbas Barbosa, Gilberto Perrone. Fotografia: Amleto Daissé. Música: Remo Usai.
Sinopse: À notícia da morte de Boca de Ouro (Valadão), perigoso chefão do jogo do bicho, um repórter (Cândido) sai em busca de depoimentos sobre a vida do lendário bandido. Ele encontra a ex-amante do contraventor (Lara), que, ao sabor das circunstâncias, muda seu relato de um terrível episódio ocorrido entre o bicheiro e um jovem casal (Daniel Filho e Monteiro), apresentando três versões do mesmo.
Oito anos após seu primeiro longa (“Rio 40 Graus”, de 1955), Nelson Pereira dos Santos já se impunha como um grande veterano, ao compatibilizar suas diversas influências com universo ficcional do dramaturgo Nelson Rodrigues. A sangrenta ascensão criminosa do protagonista, na introdução, remete aos filmes de gângster dos anos 30. O fascínio do submundo criminoso lembra o film noir americano. A narrativa dinâmica em flashbacks evoca o clássico “Cidadão Kane”, de Orson Welles. E o neorrealismo italiano, sua maior influência, aparece até mesmo na fala de um personagem. Ao mesmo tempo, o resultado é rodriguiano por excelência, indissociável do seu contexto (o subúrbio do Rio de meados do século XX) e cheio de figuras imersas em passionalidade, ambiguidade e violência (que, aqui, vai às últimas consequências).
103 min.