Título original: “Cabra Marcado para Morrer”. Ano: 1984. Direção: Eduardo Coutinho. Roteiro: Eduardo Coutinho. Elenco: Eduardo Coutinho, Ferreira Goulart, Tite de Lemos, Elizabete Teixeira, João Virgílio da Silva, João Mariano. País: Brasil. Produção: Mapa Filmes, Eduardo Coutinho. Fotografia: Fernando Duarte, Edgar Moura. Música: Rogério Rossini.
Sinopse: Em 1962, João Pedro Teixeira, liderança camponesa da Paraíba, foi assassinado no contexto das tensões locais entre proprietários e trabalhadores rurais. Dois anos depois, o cineasta Eduardo Coutinho foi até lá filmar sua história, tendo membros da população local como atores (muitos deles vivendo os seus próprios papeis, como a esposa de João Pedro, Elizabete). Durante as filmagens, houve o golpe militar e, nas primeiras horas de ditadura, o trabalho foi interrompido, sendo o material filmado apreendido pela polícia e grande parte da equipe tendo de fugir para não ser presa. 17 anos depois, Coutinho volta ao local em busca dos atores. A obra é completada como o documentário do reencontro entre o cineasta e os atores/personagens do filme original. “Incrível” é a qualidade que melhor se aplica a qualquer documentário de Eduardo Coutinho, e a este em especial. O que seria a história de um líder político local se tornou a história de um povo (os trabalhadores de Sapé, no interior da Paraíba) e, ainda mais, a História de um país (o golpe, a lenta redemocratização). É fascinante ver os trechos do filme original serem exibidos tantos anos depois para aqueles que dele participaram, com eles se vendo mais jovens na projeção. Mais emocionante ainda é a busca por Elizabete Teixeira, exilada de sua própria identidade após o golpe, no interior do país. E, depois, a busca pelos filhos do casal, uma família que se tornou em desfamília, espalhada, golpeada pelos micro e macro conflitos da realidade nacional. Esse é o grande valor da obra de Coutinho: mostrar o quão longe podem ir as consequências nefastas de uma descontinuidade da democracia: destrói e abala as vidas de todas as formas, físicas, psicológicas, emocionais. Mas a volta de Elizabete é a volta da própria democracia, naquele momento ainda abalada, machucada, assustada, mas dona de uma força que não poderia ser contida até o final do filme. E que segue viva, até hoje.
119 min.