POR LEANDRO MURAD
Cinema Brasileiro
Cartaz Cinco Vezes Favela
CINCO VEZES FAVELA
Cinco Vezes Favela
Marcos Farias / Miguel Borges / Joaquim Pedro de Andrade / Carlos Diegues / Leon Hirszman - 1962

Título original: “Cinco Vezes Favela”. Ano: 1962. Direção: Marcos Farias (episódio “Um Favelado”), Miguel Borges (episódio “Zé da Cachorra”), Joaquim Pedro de Andrade (episódio “Couro de Gato”), Carlos Diegues (episódio “Escola de Samba Alegria de Viver”) e Leon Hirszman (episódio “Pedreira de São Diego”). Roteiro: Marcos Farias ( “Um Favelado”); Miguel Borges (“Zé da Cachorra”); Joaquim Pedro de Andrade e Domingos de Oliveira (“Couro de Gato”); Carlos Diegues e Carlos Estevão (“Escola de Samba Alegria de Viver”); Leon Hirszman e Flávio Migliaccio (“Pedra de São Diego”). Elenco: Flávio Migliaccio, Valdir Fiori, Waldir Onofre, João Angelo Labanca, Claudio Bueno Rocha, Peggy Aubry, Jandira Aguiar, Paulinho, Sebastião, Damião, Napoleão, Ayrton, Milton Gonçalves, Cláudio Correia e Castro, Oduvaldo Viana Filho, Abdias Nascimento, Maria da Graça, Jorge Coutinho, Glauce Rocha, Sadi Cabral, Francisco de Assis, Joel Barcellos, Cecil Thiré. País: Brasil. Produção: Centro Popular de Cultura da UNE, Instituto Nacional do Livro, Saga Filmes, Tabajara Filmes, Marcos Farias, Leon Hirszman, Paulo César Saraceni. Fotografia: Mário Carneiro, George Dusek, Özen Sermet. Música: Carlos Lyra, Hélcio Milito, Mário Rocha, Geraldo Vandré.

Sinopse: Antologia de cinco contos sobre os habitantes das favelas do Rio de Janeiro. No primeiro, um homem endividado (Migliaccio) é levado a participar de um crime. Na segunda parte, o despejo de uma família resulta no embate de forças entre um líder comunitário (Onofre) e o grileiro que se apossou do local (Labanca). No terceiro conto, meninos precisam caçar gatos pela cidade, para vendê-los como matéria-prima de tamborins. No quarto, os preparos de uma escola de samba para o carnaval afetam a vida dos moradores do morro. Por fim, trabalhadores de uma pedreira percebem que as casas da favela em que eles mesmos moram serão ameaças pelo empreendimento.

“Cinco Vezes Favelas” é um documento histórico em mais de um aspecto. É um marco da cultura, tendo reunido vários jovens realizadores do Centro Popular de Cultura (CPC) da UNE. Integrantes do Cinema Novo, os autores de “Cinco Vezes Favela” buscavam obcessivamente a aproximação dos artistas e do público das camadas mais pobres da população. Entre esses jovens idealistas, encontramos nomes que fariam história no cinema nacional, como Cacá Diegues e Leon Hirszman. O filme é também um retrato das favelas cariocas de mais de cinquenta anos atrás, já com problemas que, nas décadas seguintes, a cidade não poderia mais ignorar. Por fim, há o valor artístico da obra em si, cuja mensagem permanece forte. Todos os episódios retratam pessoas cuja vida é marcada pela pobreza e pela luta constante pela simples sobrevivência. As saídas encontradas para os limites financeiros variam de episódio para episódio: podem ser criativas, desesperadas ou conformistas. Podem, até mesmo, ser lúcidas e construtivas de uma coletividade mais forte que os indivíduos. E, por vezes, a solução encontrada é dolorosa, reveladora da responsabilidade que jamais deveria recair sobre os ombros de uma criança. O mais jovem protagonista do filme é o menino que, apenas em outra realidade, poderia ter uma amizade duradoura com seu gato. “Couro de Gato”, sublime trabalho primordial de Joaquim Pedro de Andrade, é o melhor segmento, dando ao filme um caráter universal que transcende até mesmo seu riquíssimo valor histórico.

92 min.