Título original: “Viridiana”. Ano: 1961. Direção: Luis Buñuel. Roteiro: Julio Alejandro, Luis Buñuel. Elenco: Silvia Pinal, Francisco Rabal, Fernando Rey, José Calvo, Margarita Lozano, José Manuel Martín, Victoria Zinny, Luis Heredia, Joaquín Roa, Lola Gaos, María Isbert, Teresa Rabal. País: Espanha, México. Produção: Unión Industrial Cinematográfica (UNINCI), Films 59, Gustavo Alatriste. Fotografia: José F. Aguayo. Música: Gustavo Pittaluga.
Sinopse: A noviça Viridiana (Pinal) visita seu tio (Rey) em uma casa de campo. Este, já enfermo, patrocinou sua formação, mas nunca lhe foi próximo. Viridiana logo percebe que o tio nutre por ela uma paixão obsessiva, devido à semelhança física com sua falecida esposa. O desenrolar desse drama transformará drasticamente a alma da jovem beata.
Viridiana é um filme de perturbação ética e estética. A desconstrução ética da protagonista é seu elemento mais comentado, tendo gerado escândalo na época e a condenação da Igreja Católica. No entanto, é sua segunda dimensão perturbadora, a estética, que destacamos aqui. Em sua primeira parte, o filme, ainda que flerte com temas espinhosos como estupro e necrofilia, o faz com moldura de bom gosto aristocrático que o cinema ama: o casarão, a riqueza, a música clássica. O requinte, mesmo em torno do absurdo, mantem-se presente. Ao longo da história (que, na verdade, são muitas em uma só), a perturbação ética que assola Viridiana transborda para a tela e chega ao ápice no antológico banquete dos mendigos. O grotesco invade então o belo, destruindo-o e desnudando sua fragilidade. Passada a tempestade, resta a belíssima cena final. O rock and roll suave substitui a música clássica e, com a elegância niilista de um submundo de Bogart, paixão e prazer são permitidos, nem que seja para aliviar a dor. Com direção tecnicamente perfeita, Buñuel apresenta, em apenas 90 minutos, um conto cheio de detalhes e surpresas, gerando discussões e análises sem fim até os dias de hoje.
90 min.