Título original: “Joker”. Ano: 2019. Direção: Todd Phillips. Roteiro: Todd Phillips, Scott Silver (baseado nos personagens de Bob Kane, Bill Finger e Jerry Robinson). Elenco: Joaquin Phoenix, Robert De Niro, Zazie Beetz, Frances Conroy, Brett Cullen, Shea Whigham, Bill Camp, Glenn Flesher, Leigh Gill, Josh Pais, Sharon Washington. País: EUA, Canadá. Produção: BRON Studios, Creative Wealth Media Finance, DC Comics, DC Entertainment, Joint Effort Village Roadshow Pictures, Warner Bros., Bradley Cooper, Todd Phillips, Emma Tillinger Koskoff. Fotografia: Lawrence Sher. Música: Hildur Guðnadóttir.
Sinopse: Trabalhando como palhaço de dia e comediante à noite, Arthur Fleck (Phoenix) tenta driblar seus sérios problemas mentais e encontrar um lugar no mundo. Porém, uma série de revezes em sua vida o leva a uma perigosa escalada de loucura.
Esta livre adaptação do mais famoso inimigo do Batman inspirou-se muito mais no próprio cinema do que nos quadrinhos. “O Rei da Comédia” (1982), de Martin Scorsese, é seguido de perto, e todo o aspecto visual presta tributo ao cinema autoral dos anos 70 e início dos 80. Desde a estreia, houve elogios quase unânimes à atuação de Joaquin Phoenix e a toda a parte técnica do filme. Mas as maiores discussões sobre a obra, por incrível que pareça, deram-se no âmbito moral: que mensagem o filme passa, deixa de passar, que comportamentos pode influenciar ou não. A esse respeito, a diversidade de análises, por vezes mutuamente contraditórias, evidencia que “Coringa” acontece na mente do espectador para muito além do tempo de projeção. Assim, entre as muitas leituras possíveis, esta não viu no filme glamorização da violência, da doença mental ou de coisa alguma. Pelo contrário, glamour é algo que passa longe deste Coringa. Destituído do refinamento macabro do gás do riso, ele é uma figura feia, seca, troncha, desagradável, que, mais do que raiva ou pena, desperta vergonha. Sua história é incômoda e perturbadora, e aí reside seu impacto. Este Coringa não é político, e nem é sua revolta ilustrada ou racional. O louco e mortal Arthur, como os demais palhaços, é efeito direto da demanda social não atendida a cada corte de orçamento. É o que acontece quando se abandona o indivíduo à sua própria sorte e depois se coloca uma arma em sua mão. É fruto da cidade que o prepotente bilionário quer salvar, sem perceber que ele mesmo é parte do problema. Análise moral não se aplica ao resultado da falha fundamental na implantação de qualquer sistema moral. Tornado em mito pela mesma cidade doente que o gerou, o Coringa de 2019, muito mais do que influência perigosa para o mundo real, parece ser seu trágico reflexo presente.
122 min.